Em meio à pandemia da Covid-19, doença que já matou mais de 8 mil pessoas na cidade, Salvador enfrenta, ainda, um surto da gripe Influenza A, do subtipo H3N2. Ao todo, já foram registrados mais de 170 casos confirmados do vírus na capital baiana, que também já contabiliza uma morte em razão da variante. Para evitar a propagação da gripe e impedir que ela continue se espalhando pela população, é necessário, sobretudo, entender a atuação da cepa, que de acordo com o médico infectologista Adriano Oliveira, não é uma novidade.

Especialista informou que o H3N2 é o vírus da Influenza que está há mais tempo causando gripe na população mundial. “Ele tem décadas que está entre nós, há muito mais tempo do que o H1N1, que se tornou tão famoso a partir de 2009, quando ele fez aquela pandemia”, elencou.

“O que tem de diferente agora são duas coisas: esse vírus é um vírus que sofreu uma mutação muito precoce, contando aí o tempo, porque normalmente, o vírus Influenza muda de um ano pro outro.

Então, quando inicia o ano, a gente, em geral, enfrenta uma Influenza modificada em relação ao ano anterior. É por isso que a vacina deve ser feita no primeiro semestre, só que essa mutação do H3N2 aconteceu mais cedo, pegando o final do ano. Então, ele apareceu mais cedo e causou uma epidemia numa época em que não é muito comum ter epidemia por Influenza, que é justo no verão”, explicou o especialista.

Oliveira aponta ainda um fator que pode ter colaborado com a proliferação do vírus H3N2. “Isso talvez tenha sido facilitado pelo fato de a cobertura vacinal esse ano ter sido muito ruim, haja vista que as pessoas se preocuparam tanto com a vacinação para a Covid, que meio que esqueceram, negligenciaram a vacinação para a Influenza. Até porque, o Ministério da Saúde, no início, numa recomendação cautelar, pediu para que as pessoas mantivessem um distanciamento entre as duas vacinas, Covid e Influenza, de mais ou menos 15 dias”, considera.

“Essa recomendação não existe mais porque já se viu que é seguro fazer uma vacina próximo da outra. Então, isso fez com que muita gente priorizasse a vacina pra Covid e esquecessem depois de fazerem a vacinação para a Influenza. Por outro lado, com o arrefecimento da pandemia para a Covid, as pessoas estão um pouco mais soltas. Os encontros entre as pessoas, ainda mais agora final de ano, quando esses encontros são realmente comuns, em restaurantes, bares, se tornaram mais frequentes e as pessoas estão usando menos a máscara. Tudo isso facilita a disseminação de qualquer vírus respiratório, e isso inclui a Covid e a Influenza”, emendou o médico.

Além disso, Oliveira detalhou a variedade do vírus Influenza, que de acordo com ele, tem três subtipos. “O A, o B e o C. A gente fala mais do A porque tanto o B, quanto o C, produzem doenças muito leves, mais compatíveis com um resfriado do que com uma gripe. E o Influenza A, de acordo com a combinação de duas proteínas, que são representadas pelas letras H e N, ele tem inúmeras combinações possíveis. As duas mais comuns são a H1N1 e a H3N2, mas a gente tem outros vírus”, dissertou o infectologista.

“Frequentemente lá no Oriente a gente tem vírus Influenza surgindo, gripe aviária, há algum tempo estava tendo H5N7, que inclusive é altamente letal, muito mais do que a Covid. Então, as subdivisões do Influenza A é que são essas variantes aí que causam epidemias de vez em quando”, acrescentou.